Gerações

A melhor maneira de ter bons filhos é fazê-los felizes.

Oscar Wilde

Encontrei há alguns dias atrás um ex-colega de escola, o Evanildo.

Evanildo era de uma família convencional, classe média/alta, o primeiro de quatro irmãos (um na verdade é uma) que viveram a vida toda com pai e mãe, também convencionais. Nada destes modismos de hoje, onde as famílias possuem dois pais e duas mães, uma mãe e um avô, duas mães e nenhum pai; enfim, famílias não convencionais para os padrões de alguns atrás. Apenas pai e mãe, filho, filho, filha e filho.

Era um bom pai e uma boa mãe, os pais do Evanildo. Cheios de defeitos e cometendo muitos erros, como todo pai e toda mãe. Mas tinham boa vontade, queriam conquistar aquelas coisas que elegeram importantes, para si e para os filhos: dinheiro, propriedades, e um pouco mais de dinheiro. Foi talvez aí que seus problemas começaram.

Os filhos ficaram relegados a um papel secundário na família, pois não tinham capacidade de gerar renda. Eram um apêndice, muitas vezes tratados como pequenos servos a disposição das vontades do casal parental. E em muitas outras vezes, tratados como inúteis, ou usados simplesmente como saco de pancadas para descarregar frustrações e ansiedades. Não linearmente, pois havia as diferenças de idade, de preferências e de sexo. Alguns apanhavam mais do que os  outros, e as recompensas afetivas e materiais, em sua maioria frutos do remorso e do arrependimento, também eram diferentes.

Para encurtar a história, criou-se um bando de loucos e desajustados. Um fugiu, e sua loucura é achar-se a salvo da loucura familiar. Dois outros enveredaram pelo uso de álcool e drogas, onde um ainda permanece e o outro luta para sair. E, finalmente, a outra tornou-se solitária, com ilusões de personalidade que a afastam de qualquer possibilidade de recuperação por ter um contato muito raso com a realidade. Mas todos, absolutamente todos, afastados demais dos sentimentos de realização e felicidade que qualquer ser humano merece.

Contei a história da família do Evanildo porque estou pretendendo ter filhos. Na verdade, já tenho duas filhas do primeiro casamento. Acho que não as ajudei o suficiente a encontrarem pela vida as ferramentas necessárias para serem felizes; eu era muito jovem na época em que nasceram. Porém, são pessoas muito melhores do que eu, e isto é muito mais do que eu poderia, como pai aos meus 19 anos, imaginar para minhas filhas.

Meus próximos filhos nascerão de um pai mais maduro, mais experiente, menos perplexo. E eu espero que sejam felizes, e que sigam em busca de seus próprios sonhos. Porque, parafraseando Hodding Carter:

Os dois maiores presentes que posso dar aos meus filhos são raízes e asas.

Caho Lopes
Setembro de 2007

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