Silêncio e solidão

Se você não consegue entender o meu silêncio, de nada irá adiantar as palavras, pois é no silêncio das minhas palavras que estão todos os meus maiores sentimentos.

Oscar Wilde

Sofro de insônia.

Muitas vezes, desperto no meio da madrugada e não existe mandinga ou benzedura que me faça dormir novamente. Fico fritando na cama, virando de um lado para o outro, até o momento em que decido levantar e fazer algo útil, já que o sono não virá mesmo. Esta crônica, por exemplo, está sendo escrita em um destes momentos.

O pior é que muitas vezes estou com o corpo cansado, os olhos cheios de areia, a cabeça não funciona direito, baratinada pela falta de sono. Mas ele não vem, fica em algum lugar qualquer que eu gostaria de saber onde é, inalcançável para meu corpo e minha mente.
Algumas vezes a insônia me traz benefícios. Se o cansaço não é muito, a quietude da madrugada ajuda a colocar os pensamentos em ordem, a vasculhar a alma em busca de uma ou outra emoção escondida, a procurar sentimentos perdidos nesta imensidão sem fim dos meus devaneios.

O mestre Érico Veríssimo, começou “O Continente” (da trilogia “O Tempo e o Vento”), com o seguinte parágrafo:

Era uma noite fria de lua cheia. As estrelas cintilavam sobre a cidade de Santa Fé, que de tão quieta e deserta parecia um cemitério abandonado. Era tanto o silêncio e tão leve o ar, que se alguém aguçasse o ouvido talvez pudesse até escutar o sereno da solidão.

A solidão caminha junto com os insones e os notívagos. Talvez só quem passou algumas horas em claro na madrugada saiba o verdadeiro valor do silêncio e da solidão.

Porque, se é bom demais estarmos cercados por nossos familiares e amigos, seja em confraternizações ou nos dias que simplesmente escorrem pela ampulheta da vida, também se faz importante a quietude para escutar as coisas da alma e do coração.

Caho Lopes
Abril de 2012

 

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