Lacosta – Parte C

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Tudo começara a tanto tempo que alguns detalhes se perderam nos escaninhos de sua memória. Talvez algumas lembranças não sejam cópias fiéis dos fatos, mas afinal, o que é a vida senão a maneira como a sentimos?

Lacosta tinha boas lembranças de seus primeiros anos. Era uma criança feliz, com alguns bons amigos e uma paixão platônica pela professora da primeira série. Seu pai era empresário, dono de algumas lojas que vendiam um pouco de tudo, especialmente produtos alemães, considerados os melhores do mundo: roupas, sapatos, facas, produtos agropecuários, ferramentas, máquinas… Era muito bem sucedido, graças a influência de um tio avô que servira no Führerbunker e era muito próximo de Hitler. A rede de contatos certos fazia com que os produtos chegassem em sua loja com pequenas taxas de transporte e alfandegárias, resultando em preços imbatíveis para a concorrência. Sua mãe era uma mulher problemática, cheia de altos e baixos. Cuidava da casa e dos empregados, mas suas crises tornavam a vida de todos um inferno. Algumas vezes, parecia dona de uma energia incomensurável, fazendo várias coisas ao mesmo tempo, rápida, ágil, mas também arrogante e agressiva. Em outras, parecia que sua vida estava presa por um fio. Fraca, carente e depressiva, a todo momento o abraçava e beijava, por vezes chorando baixinho. Lacosta era uma criança perdida neste labirinto familiar: um pai ausente, uma mãe louca. Todas   as empregadas que ficavam mais do que poucos meses em sua casa eram chamadas de mãe. Normalmente, elas o enchiam de carinho e mimos, levando-­‐o para passear até mesmo nas suas horas de folga.

Quando tinha dez para onze anos, seu pai decidiu que era hora de adotarem outra criança. Mais do que qualquer outra coisa, queria motivar a esposa, cujas crises de depressão eram cada vez mais frequentes. Lacosta não sabia, mas isto mudaria radicalmente seu destino.

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